Visitar o continente africano nem fazia parte dos meus sonhos há alguns anos. As informações sobre essas terras me vinham através de leituras e da TV. Ao mesmo tempo em que assistia a filmes e documentários sobre os animais que a habitavam, também sabia que ali havia muita fome, pobreza, Aids e guerras. Sobre os africanos, sempre me indignou a injustiça contra os que foram arrancados de suas terras para serem escravizados em nosso país, onde, até hoje representam a maioria pobre, com muitos direitos ainda a serem conquistados.
Pois vivemos em tempo de globalização e no ano passado, mais precisamente logo após a realização da Copa Mundial de Futebol na África do Sul, minha filha, Mariana, e seu esposo, Marcelo, foram transferidos para Johanesburgo, capital deste país.
Então apresentou-se a possibilidade de visitá-la e entrar em contato com o continente onde foram encontrados os primeiros vestígios da raça humana na Terra.
Partimos de São Paulo, à 1h30min da madrugada do dia 16 de abril. Minha alegria era imensa, pois além de visitar a África, reuniria a família. Éramos 5 a sair do Brasil. Eu e Gervásio , meu esposo, e Elias, meu filho, de Farroupilha, Lara, minha filha e Luara, minha neta, de Curitiba. Chegamos a Johanesburgo às 16h30min. Sendo a diferença de fuso horário de 5h, nosso vôo foi de 10horas.
Já ao chegar, nos deparamos com um aeroporto imenso, moderno, onde fomos bem recebidos por africanos e africanas sorridentes e acolhedores. A partir daí, foram grandes as aprendizagens.
Em primeiro lugar, minha filha gosta muito de morar nesta cidade moderna e bonita, onde o clima é semelhante ao nosso, com as quatro estações bem definidas, onde chove regularmente, e onde goza de todo conforto: mora numa excelente casa num condomínio fechado , tem acesso a bons médicos- ela está grávida de 7 meses-, próximo a sua residência há vários supermercados, restaurantes e academias. Também está conectada ao mundo através da internet e de muitos canais de TV. Além disso, relaciona-se com muitos brasileiros que também lá moram exercendo suas atividades profissionais, assim como Marcelo, que é funcionário da Brasil Foods( união das brasileiras Perdigão e Sadia). Na África há 11 línguas oficiais, mas a língua mais falada é o inglês.
Já no dia seguinte, domingo, visitamos o Lion Park, onde pudemos acariciar os filhotes de leão e assistirmos à alimentação dos leões adultos, além de alimentarmos girafas, vermos zebras, gnus, búfalos e veados. É um parque privado, tipo um zoológico, onde os animais não estão em seu habitat natural e fica próximo à cidade. No local havia muitos estrangeiros que com suas câmeras poderosas clicavam tudo que viam.
Segunda –feira, visitamos a maior favela do mundo: Soweto,o único lugar do mundo onde, na mesma rua, moraram Nelson Mandela e o bispo anglicano Desmond Tutu, os dois vencedores do Prêmio Nobel da Paz . Visitamos o museu que preserva a casa humilde onde a família de Mandela viveu durante os 27 anos em que ele ficou preso por causa de sua luta contra o Apartheid. No mesmo dia visitamos o estádio onde foram realizados os jogos da Copa, o Centro Histórico de Johanesburgo e o Memorial Hector Peterson, onde uma foto registra um menino estudante que, num trajeto de 6 Km, carregou Hector, morto pelos brancos num movimento de estudantes contra o Apartheid. Essa foto foi mostrada pelos jornais do mundo inteiro e é um símbolo da luta do povo sul- africano pelo direito a igualdade racial e social.
Na terça-feira viajamos de avião até a Cidade do Cabo onde permanecemos até quinta feira. Essa cidade possui uma beleza natural comparável a do Rio de Janeiro, que é considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo. Lá visitamos a ilha onde Nelson Mandela e outros ativistas ficaram presos por sua militância contra a segregação racial. A prisão foi transformada em museu e quem conta a história é um ex-presidiário. Lá é muito frio e chove bastante. Era impossível fugir pela distância entre a ilha e o continente e por causa dos cães ferozes que guardavam a prisão. O narrador relata os mecanismos usados para tornar as vidas dos presos especialmente difíceis. O que impressiona é que, embora os nativos tenham sofrido tanto nas mãos dos brancos, e que sejam eles agora a governar seu país, todos os textos expostos falam em paz, em tolerância. Sempre reforçam a idéia de que todos devem estar unidos para que fatos como os ocorridos nunca mais se repitam. Andando nas ruas, visitando os espaços, também percebemos que hoje eles vivem em harmonia, não importando a cor da pele, seja preta, colorida ( como constava nas identidades de asiáticos e mulatos) ou branca. Visitamos ainda praias belíssimas, e o famoso Cabo da Boa Esperança- as aulas de História fazem mais sentido quando se está num lugar como esse. Na quinta-feira visitamos a região dos vinhedos chamada Franschuk. Lá são produzidos vinhos de excelente qualidade, além de queijos de diversos tipos. É uma região muito linda com cidadezinhas encantadoras. Voltamos a Johanesburgo à noite.
Sexta-feira , tentamos visitar o Museu Nelson Mandela, mas ele estava fechado por causa do feriado religioso, o que nos deixou bastante decepcionados. Então dedicamo-nos a preparar nossa bagagem, pois no dia seguinte iniciaríamos nosso safári.
Sábado, despertamos com o raiar do sol e partimos rumo a Botswana, país onde há a maior concentração de grandes animais ainda em seu habitat natural. Chegamos à fronteira em torno de 16h. Aí começou uma aventura que duraria 8 dias. Durante o dia, transitávamos dentro de grandes parques em busca de animais e à noite acampávamos em campings, a maior parte deles situados dentro dos parques. Não era permitido transitar após as 18h, quando o sol se punha, devido ao perigo de atropelar algum animal. Então procurávamos chegar ao local do acampamento às 17h30min, para podermos armar nossas barracas ainda com a luz do dia. Nos campings sempre havia banheiros com água quente para o banho. Na maioria dos locais havia um ponto de luz e água e um local para fazer fogo, importante para espantar os animais que viviam por ali. Em alguns também havia piscina.
Viajávamos em duas caminhonetes 4x4, alugadas, totalmente equipadas para a aventura. As barracas ficavam sobre o teto das caminhonetes e eram armadas e desarmadas em poucos minutos. Os utensílios domésticos, geladeira, fogareiro, colchões, travesseiros, toalhas, tudo estava incluso no pacote. Só precisávamos comprar água, alimentos e a lenha para o fogo. Dormíamos cedo e acordávamos cedo também. Em um dos dias fomos a outro país, Zimbabwe, onde visitamos Victoria Faals, uma das 7 Maravilhas do Mundo. Trata-se de cataratas imensas, lindas, com uma vazão de água muito grande. Botswana e Zimabwe são países habitados só por negros. Em Botswana, a capital tem somente 250 000 habitantes. Atravessamos o país, mas vimos poucas cidades ou vilarejos. Tínhamos que ter cuidado com o combustível , pois a distância entre um posto e outro era grande. O País vive dos diamantes e do turismo. Assim como nós, viajavam muitos estrangeiros de diferentes partes do mundo. Vimos muitos animais: os elefantes andam em bandos e nós os encontramos diversas vezes. Os parques são imensos, alguns maiores que o Rio Grande do Sul. Alguns são cortados pela estrada asfaltada que corta o país. Então você está andando e, de repente, encontra animais atravessando a rodovia. Encontramos: jegues, bois e vacas, elefantes, veados, macacos, javalis ( os pumbas do filme Rei Leão). Os animais têm prioridade para transitar, portanto todos param para que eles se locomovam livremente. Uma curiosidade é que os carros possuem mão inglesa, isso é, o motorista dirige no lado direito do carro e a pista também é a da direita. No começo é um pouco difícil para o motorista acostumado a dirigir no Brasil. Meu marido e meu filho haviam providenciado a carteira internacional de habilitação e se adaptaram à maneira deles de dirigir.
Assim, passaram-se os 8 dias do safári. Foi emocionante adentrar a savana e dar de cara com 5 ou 6 girafas, centenas de veados, centenas de macacos, 30, 40 elefantes entre eles filhotes de diversos tamanhos, alguns rinocerontes, alguns hipopótamos e crocodilos. Era meio assustador quando armávamos nosso acampamento sobre o rastro de felinos e, embora não os tenhamos visto, sabíamos que eles estavam por aí.
Agora, passada uma semana do nosso retorno, revejo as fotos e ainda parece que estou sonhando. Entretanto, estive lá. Penso também na importância de que estes enormes territórios continuem a ser reservados aos animais, caso contrário, a eles ficarão apenas reservados os tristes circos e zoológicos.
Foi uma grande experiência. Já admirava Nelson Mandela, já apreciava a música e a dança dos descendentes de africanos no Brasil. Agora esse sentimento se aprofundou. Disponibilizo algumas das fotos que tiramos para compartilhar com você imagens dessa terra tão bonita.
ALGUMAS FOTOS, ACESSE